"... deixa quieto, guardadinho lá no fundo, uma hora passa... Deixa secar..."
E infelizmente isso é inevitável, uma vez que nós seres
humanos somos imperfeitos e por isso não estamos livres de errar e por
consequência magoar os outros. O fato não é julgar se é certo ou errado magoar
as pessoas que amamos. Para mim o ponto crucial de tal situação é a forma com
que a gente lida com isso. Confesso que sempre achei que o melhor caminho fosse
o diálogo, mas tenho aprendido que nem sempre essa é a melhor opção,
principalmente em casos recorrentes.
As vezes é melhor resolver a questão internamente, mesmo
que seja mais dolorido, pelo menos pra mim, pois sempre pensei que ao
compartilhar meu sentimento me sentiria melhor. Mas chega um ponto que de tanto
você querer expressar a tua dor perante algumas situações, acabamos passando a
imagem de chatos, dramáticos, neuróticos... e sinceramente isso não é legal, e
por fim aquilo que te serviria para aliviar, torna-se uma bola de neve, afinal de
contas o outro nunca vai entender o que te fez sentir, portanto isso é algo que
deve ficar lá no fundinho guardado.... Se o outro achar que errou, que pisou na
bola com você e vier te pedir desculpas e demonstrar que faria de tudo para reverter
a situação beleza, caso contrário quem é você para dizer que esta pessoa está
errada... deixa quieto, guardadinho lá no fundo, uma hora passa... Deixa secar
como ensina uma certa história:
“Mariana ficou toda feliz porque ganhou de presente um
joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas. No dia seguinte, Julia
sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar.
Mariana não podia porque ia
sair com sua mãe naquela manhã. Julia, então, pediu a coleguinha que lhe
emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na
garagem do prédio.
Mariana não queria
emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de
demonstrar todo o seu ciúme pôr aquele brinquedo tão especial.
Ao regressar do passeio,
Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão. Faltavam
algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada.
Chorando e muito nervosa,
Mariana desabafou: Esta vendo, mamãe, o que a Julia fez comigo?
Emprestei o meu brinquedo,
ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão. Totalmente descontrolada,
Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Julia pedir explicações.
Mas a mamãe, com muito carinho, ponderou:
- Filhinha, lembra daquele
dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando,
jogou lama em sua roupa?
Ao chegar a sua casa você
queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou.
Você lembra do que a vovó
falou? Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais
fácil limpar. Pois e, minha filha! Com a raiva e a mesma coisa.
Deixa a raiva secar
primeiro. Depois fica bem mais fácil resolver tudo. Mariana não entendeu muito
bem, mas resolveu ir para a sala ver televisão.
Logo depois alguém tocou a
campainha. Era Julia, toda sem graça, com um embrulho na mão. Sem que houvesse
tempo para qualquer pergunta, ela foi falando:
- Mariana, sabe aquele
menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente?
Ele veio querendo brincar
comigo e eu não deixei. Ai ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você
havia me emprestado.
Quando eu contei para a
mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho
para você. Espero que você não fique com raiva de mim.
Não foi minha culpa.
Não tem problema, disse
Mariana, minha raiva já secou. E, tomando a sua coleguinha pela mão, levou-a
para o quarto para contar história do vestido novo que havia sujado de barro.”